quarta-feira, 22 de abril de 2020

todo o meu ser agora é sonância

todo o meu ser agora é sonância
que me preenche e me eleva
e à ti me levará perpetuamente
pois meu amor por ti 
é súbito e limpo
como um sentimento instintivo

as violências que antes me regiam
tornaram-se apenas breves instantes
dos dias em que agora me encontro
devota, pois meu amor por ti
é intrínseco e leve
como o que é inato à existência. 

eu que conheço as vielas horrendas da dor
descubro em teu corpo sombrio e trêmulo
a minha própria crença
pois meu amor por ti
é tal eu versava
doce e incontestável
como uma enraizada e sempre terna
presença.

eu sinto que posso morrer a qualquer momento
mas pela tua vida eu renasço 
e na tua voz eu me desfaço e revelo aos prantos
que eu não te amo como se fosses tudo ou nada
mas te amo como se fosses o agora e sempre.

envolta em cólera, ele me furta o sono



envolta em cólera, Ele me furta o sono
e febril me encontro ao meditar
as direções e infinitos traços
que compõem seu rosto.

em imaginação noturna eu percorro
com a ponta de meus curiosos dedos
as linhas e tonalidades
que compõem seu rosto.

debruçada no poente dos seus ângulos
me inclino para perto pertinho de seu queixo 
e minuciosamente investigo as arestas
que compõem seu rosto.


é tão bonita sua boca, 
úmida e sutil, de cores múltiplas.
boca que tão sozinha sustenta um olhar nublado
que demonstram pávidos já terem visto tudo
já terem visto muito, visto todo o mundo.

olhos também sensíveis, de quem demasiadamente sente
olhos de todas as vidas passadas, olhos atentos de artista.

e sinto suas mãos quentes repousadas no meu peito
que bate forte dessincrônico, apaixonado por Ele.

essas mãos tão expansivas, 
que se comunicam com aqueles olhos que tudo veem. 
suas mãos fortes e serenas, instrumentos orgânicos e sublimes
das transparências celestes.

à noite com meu sono furtado percebo:
Ele é a própria história sombria do universo
e me ensina o dialeto oculto do que é divino.

seus olhos que tudo enxergam, suas mãos severas
que dão vida à beleza trágica da existência humana.
seu corpo lindo, veículo do falar dos céus e das estrelas.

seu corpo vivo 
seu corpo insano que sente muito, 
que sente meu corpo miúdo.

seu corpo, seus olhos
sua boca ardente
seus pensamentos confusos, 
tão descontentes
seus olhos às vezes tão tristes 
seu corpo de mãos simultâneas
e voz tão mansa

e aqui perto eu o observo, aqui perto d'Ele eu sinto
como se soubesse o segredo da sobrenatural verdade
e a revelação dos mistérios dos planetas.

Ele, despretensioso, solitário, faminto
me engole,
me risca,
me cria,
numa folha simples de papel.