quinta-feira, 25 de agosto de 2022

A única verdade

A única verdade que me compõe é o Tempo 
e nele confio todas as minhas forças. 
Como se eu quase compreendesse 
as vertentes do Universo. 

As três dimensões do agora 
são minha compreensão 
e eu designo meu amor verdadeiro
à Natureza. 

Quando olho para o Céu, 
encerro em mim prisões 
e firmezas. 

Há muito atento 
às revelações do etéreo. 

Jaz em mim o refúgio, 
a atroz fatalidade. 

Amo a vida, 
amo as cicatrizes 
no meu corpo temporárias. 

Beijo-as em gentilezas, 
não mais cruel comigo, 
resido na própria tranquilidade 
do tempo presente. 

Nada é mais certo e secular. 

Minhas múltiplas variações 
dedicam-se ao atino 
da consciência viva. 

Meu corpo morrerá, 
mas devolvo todas 
as energias ao entendimento, 
estou pairada febril na atmosfera! 

Repleta de agradecimentos, 
habito meu gradual esmaecimento. 
Morro devagar, mas perpétua sou.

Irremediáveis locuções do agora

Irremediáveis locuções do agora. 
Me fiz casta para sua chegada, 
continuamente pronta 
para seu calor 
me envolver
em panos quentes. 

Estive à espreita, 
nas margens 
das ausências
e deslembranças. 

Sou tua como se 
não coubessem em mim 
espaços para resignar 
a verdade absoluta. 

Sempre te amei, 
hoje bem sei. 

Você se fez presente 
em todos os meus momentos 
da infância e das fases.

Sou quem sou por te amar, 
me edifico na tua voz e semblante. 

Participar do instante 
é compreender,
em suma, 
as chaves lembranças 
do teu ser sombrio 
me embebedando 
de saudades 
do que ainda 
viria a viver. 

Você sempre esteve aqui, 
repito em ordens e fragmentos, 
agarrada aos pés da minha aurora. 

Meu peito fiel 
eternamente manchado 
pelo sentimento descabido. 

Eu te amei por tantos verões!
Tantas idas e vindas 
das portas do destino, 
justamente sobreposta. 

Nada é capaz de me roubar de ti, 
te pertenço em milhares de odes e brumas. 

Néctar da honestidade, 
da veracidade, 
do sumo 
da constância. 

És meu doce sangue 
pulsante nas veias vivas 
nos meus braços 
e pernas trêmulas. 

Eu sorrio algoz, 
não há querer 
mais perpétuo 
em mim. 

Você está eternizada 
no meu ser 
desde que 
me posso recordar, 
nos duros intervalos 
das durações crescidas.

Nas tragédias contidas, 
nas jaulas e presas. 

Nem tudo sempre foi como é, 
o grotesco me abarrotou e sujou, 
mas me limpei 
para viver teu amor. 

Me banhei em laços 
e águas da fragilidade, 
reconstruindo meus 
pedaços perdidos. 

Você está repousada em mim 
em crostas macias, 
paradoxalmente 
nos altares da memória. 

Me questiono em retalhos, 
os estilhaços não mais 
me assombram. 

Estou pronta, 
pronuncio aos Céus. 

Guardada em segredos, 
entregue ao absoluto.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

A realidade é certa

A realidade é certa, 
não há como fugir do Tempo. 
Quando pensei ser foragida 
de suas afiadas garras, 
me percebi presa em arame farpado. 

Sempre me encontro refletida 
nos espelhos da verdade. 
De fronte com minha mais imagem crua, 
desnuda e destituída de qualquer 
desmanche do meu corpo. 

Penso sobre meus lagos internos, 
onde as águas me banham na oculta 
imagem do meu ser. 

Venha, ouça meu chamado! 
Te peço e imploro de joelhos 
para mais um intervalo 
da alma transladada em vertentes ácidas. 

Eu sou o que sou e
não posso ser diferente do que mostro, 
minha mais pura exatidão. 

Caibo onde me cabem espaços e intervalos, 
confiante de que minha pequenez 
não me abandonará nos momentos 
de alvoroço da vida. 

É sempre assim, 
quando me noto 
nas encruzilhadas da alma ínfima. 

Me aflige ficar às margens do esquecimento, 
será que serei eternizada?
Onde me aguarda a própria realidade? 

Não há como fugir do Tempo, 
repito em mesmas ordens. 
Me abraçam as durações e vivências, 
o passado se faz presente e futuro, 
determina minhas leis e regimes. 

Sinto como se o nada fosse 
o mais absoluto tudo. 
Assim se fazem meus sentidos ilógicos, 
mas continuamente plásticos. 
É tudo palpável dentro de mim, 
minhas vísceras são tão reais 
quanto meu espírito. 

Agora me encontro forte, 
pronta para encarar 
tudo aquilo que neguei 
durante meus anos dissimulados. 

Preparada para seguir 
meus caminhos determinados, 
eu creio na calma. 

Me entrego ao dito incerto, crê? 
Assim sempre sigo, 
brutalmente suave.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Não sei como pude negar-te minhas palavras

 
Não sei como pude negar-te minhas palavras
não amar-te em todos os meus instantes

se eu soubesse que nesse momento surgiria
minhas malas jamais teriam sido feitas
e os móveis não venderia aos relicários.
 
Mas sei que sempre esteve aqui silenciosa
rodeando meus próprios sistemas
e hoje finalmente sou refletida em teus calendários