quinta-feira, 17 de março de 2022

eu te peço para vir

eu te peço para vir
e tu por fim vens
repousas teu cabelo negro
tua pele doce
de curvaturas curtas
tu vens com esses teus olhos 
que muitas vezes não me dizem nada
além desse brilhar
céu noturno em teu olhar
lembro de observar esses teus olhos
e ver a linha da nossa história
da exata maneira que se vê
o passado presente e futuro nas estrelas
contada em sossego
tu vens e repousa
teu peito acelerado 
no meu em sossego
e dormes o teu sono leve
de quem precisa ser cuidada
eu te peço para vir
e tu vens com tuas mãos largas
e dedos finos
teu jeito ladino
e sorriso virtuoso
tu vens com teu jeito expansivo
manso
muda tudo de lugar
e diz sem hesitar
que aqui é teu lugar

quarta-feira, 16 de março de 2022

consciente de todos os meus erros

Consciente de todos os meus erros
vacilo entre as vagas lembranças
do passado irresgatável

Revelo em minhas linhas
as repetições de pensamentos
pois tudo que há em mim
é uma constante e torturante
repetição de acontecimentos

Aprisionada nos confins da minha mente
e não há para onde recorrer
não sei o que fazer
quando tudo que me prende
é aquilo que não posso fugir

Tento inutilmente apagar da minha memória
e me perdoar pelos erros cometidos
mas não me permito
me agrido.



costumo refletir muito sobre as digressões da minha vida

Costumo refletir muito sobre as digressões da minha vida, tenho o hábito de me teorizar e me visualizo muito melhor ao ser contada em folhas de papel.


É sobre isso que devo falar, sobre afastamentos e rupturas. Sobre os cortes e sulcos fundos que a partida me denuncia,


e eu pertenço a todos os tempos simultaneamente.


Eu deixei muito esmaecer nas margens do meu sofrimento, ininterruptamente perturbada pelas perspectivas dessa multiplicidade temporal.


O antes, agora e depois não refletem significados díspares e convergem em uma só constante recordação que se rebobina em minha mente como um filme que já assisti muitas vezes.


Ímpar existência,


Eu vivencio bizarras contraditórias dores e satisfações contínuas, pois não há tranquilidade para uma mente que coexiste com todas as suas versões.


É esse o ponto: o rompimento e a violação! A despedida das minhas outras variantes. Pois não sou, senão a que já fui e a que serei. Não me são reservados descansos, apenas espaçosos aborrecimentos pela incompreensão. Incapaz de verbalizar, expor minhas pronúncias ao mundo. Me reservo em segredo e em fracasso eu tento! - me contar ao mundo devagar, pois aqui dentro os segundos arrastam-se como horas e não há velocidade-luz que me transpasse, não.


Vagarosa, de todas as coisas que aprendi escolhendo o que pude escolher, essa é uma das lições mais valiosas. Guardo embaixo da língua as confidências e silêncios. Mistérios, martírios meus, até onde alcanço? Meu corpo miúdo será hábil suficientemente para a pluralidade?


Subdividida em muitas, aprendi a me calar.


Assim eu sou? Assim eu sou.


terça-feira, 15 de março de 2022

calço meus sapatos apertados para visitar meus entendimentos

 calço meus sapatos apertados para visitar meus entendimentos em busca falha dos primeiros passos teus dentro de mim. tua nublada e contradita presença se deu apressada, mesmo antes de termos os mesmos vocabulários e idiomas. e ainda que eu não possua doutrinas, idolatro a ideia do destino. única palpável explicação das minhas bruscas certezas, pois cedo previ que tu farias do meu corpo tua casa condenada.

 

e eu me congelo antes de acontecer 

me perpetuo entre o sempre e o quase.

 

memorizei cada gesto teu enquanto aguardava agitada por respostas e notícias tuas. tive sede, quis saber tuas sombras e segredos. ciente de toda a vaidade dos meus sentimentos ao cogitarem que tu se contarias a mim de maneira fiel, pois ao passo que te descobri vagarosa também soube dos teus contínuos silêncios. me desespero ao considerar as poucas palavras que me devotas, se tão cedo já estás cravado em mim e em minhas linhas. é tão desumano ter tanta imaginação e vontades a serem postas no papel. atroz é a ponta do lápis, que premonitória traça teu semblante com disforme clareza. bárbaras são as fantasias ilógicas que perpassam minha consciência e espírito toda vez que leio teu nome, traçando os lineares de uma vida nossa que eu tanto anseio viver.

 

eu me apaixonei por ti

 

dizem meus pensamentos dissimulados a todo momento, baixinhos, baixinhos, baixinhos: eu me apaixonei por ti e então nos ladrilhos incertos da minha memória sou acometida com a maior das ilusões: amar o platônico, o irreal e estar posta aqui diante da minha mesa a sonhar acordada com o dia em que

talvez

você entenda por fim minhas palavras 

e concretize meus não tão ocultos pensamentos. 

sábado, 12 de março de 2022

nas proféticas entranhas e instâncias da vida

 

Nas proféticas entranhas e instâncias da vida, eu sempre te amei

transfigurando o tempo e invadindo os espaços, ávida te arquitetei.


Nos nômades caminhos meus, te explorei aflita e itinerante, 

olhos ambiciosos e atentos, continuamente ébrios e conflitantes

nas esquinas do meu trágico ser, sempre certa da tua existência.


Já não tenho as mesmas fomes, sede perpétua no meu paladar

te encontrei após eterna busca e me percebo em completude.


Ao encontrar em ti minha vida refletida e prometer aos sons e alaúdes

grandes retratos e fragmentos, nas epígrafes do teu corpo eu me deleito

e também te juro os beijos justos que permanentemente te darei.


Mas há sim em mim a fome e a sede de todos nossos compassos 

nossas cadências, obstáculos e ferrenhos dias rasos ou de glórias


Não importa mais onde eu vá, você está repousado em tudo

invadindo meu peito agora aberto, prostrado e entregue

somente a ti, meu amor absoluto.