sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Ofereço-te meus lábios

Ofereço-te meus lábios,
minha doce substância
às sombras do meu ser
nos meus subterrâneos.

De mim tudo agora sabes
não ousei esconder-me de ti
nem deixar de te provocar
minhas linhas e contradições.

Açucaradas partes e partes
vou-me entregando afoita
meus lírios e lamentos
líquida, desfeita em pó.

Dissolvo-me em néctar
seiva obscura e perversa
lacunas do meu coração
hora vazio, hora repleto.

Entre minhas pernas
obscuras criptas incolores
para tua então tua caça
após infinda morada.

Faça-me eternamente tua
sem tardanças e lentidões
continuamente tua, apenas
repleta, ínsita masmorra.

Amo-te assim íntegra
cheia de saudades
palavras tão simples
devota ao nosso agora.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Sinto-me só, abandonada e esquiva.

Sinto-me só, abandonada e esquiva.
Ninguém percebe minha existência!
Jamais me importei com a solidão,
mas agora vivo com saudades frias
de algo que não vivo, além lembranças.




segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Tudo dói na completude da existência e dos conhecimentos

Tudo dói na completude da existência e dos conhecimentos
Não há espaços para respiros, pois em absoluto tudo dói.
Abro meus olhos para apreciar as manhãs - como bem digo
Mas não consigo vivenciar os dias bem vividos, pois dói.

Sentindo toda a Natureza ao meu redor, que também dói
Me embebedo do que há de mais puro dentro do saber
A consciência de todas as coisas também me machuca
Enxergo tudo como fractais que se entrelaçam em dança.

Certa vez disse - os pássaros, ruas e faróis doem
Anos se passaram e nada em concretude se transformou
Tudo permanece ainda em dor; sem saber como fugir
Encontro-me andando em círculos, extraviada.

As palavras de mim fugiram e distanciaram-se
Não mais domino o vocabulário que me transtorna
Regurgito para dentro, trancafiada e sem pulmões
Não respiro, apenas penso infinitamente na dor!

Se pudesse reclamar à todas as coisas e períodos
Diria: parem de doer, eu imploro aos Céus e Tempo! 
Mas fui condenada à dor ao muito entender
Ao muito pensar, resta-me exatamente o pensar.

Querem o quê de mim? Arrancar-me a pele?
Deixar-me confinada em meus próprios pensamentos?
Jamais estive errada e profetizei enraizada!
Nos meus versos, sangue seco entre meus dedos.

Percebo novamente e maldição, pois vivo
De palavras e pensamentos que eternamente doerão
Mas em esperanças atrevo-me aos meus pés fincar
No chão e solo sujos - do muito ruminar.




terça-feira, 13 de setembro de 2022

Desde que você partiu

Desde que você partiu
sobre o abandono
muito posso falar

Queria que não fosse assim
Ter-te apenas para mim

Tudo não foi o suficiente
Hoje compreendo enfim
A fatalidade do inevitável


As narrativas da minha realidade

As narrativas da minha realidade 
se constroem num atemporal 
sofrimento desesperado, 
não há saídas para minha derrota. 

Aceito as lâminas da minha 
juventude perdida. 

Tudo deixei ir 
ao me encontrar acorrentada 
nas persistências 
da minha penitência prematura. 

Ouso os lamentos 
das minhas partes sangrentas, 
dispostas entre minha carne ferida. 

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Dou voz ao inevitável

Dou voz ao inevitável:
a dor que me padece.

Fragilizada após tudo que procurava
ter ido de encontro ao que me destrói.

Cri em cada palavra doce pronunciada
cega pelo amor e pela paixão prometida

Não calculei os óbvios caminhos
pelos quais estávamos destinadas.

Tudo parece-me uma inexorável fatalidade
presa nas mãos de um destino irremediável.

Não me reconheço no reflexo do espelho
muda e cheia de tormentos eu me comporto.

Sofro em tantos sintomas e sentidos
norteada pela entrega ao abismo.

Há em mim uma vasta escuridão
que me reveste incansável e feliz.

Não satisfeita ainda me lamento
pela falta de dignidade que causei.