Tudo dói na completude da existência e dos conhecimentos
Não há espaços para respiros, pois em absoluto tudo dói.
Abro meus olhos para apreciar as manhãs - como bem digo
Mas não consigo vivenciar os dias bem vividos, pois dói.
Sentindo toda a Natureza ao meu redor, que também dói
Me embebedo do que há de mais puro dentro do saber
A consciência de todas as coisas também me machuca
Enxergo tudo como fractais que se entrelaçam em dança.
Certa vez disse - os pássaros, ruas e faróis doem
Anos se passaram e nada em concretude se transformou
Tudo permanece ainda em dor; sem saber como fugir
Encontro-me andando em círculos, extraviada.
As palavras de mim fugiram e distanciaram-se
Não mais domino o vocabulário que me transtorna
Regurgito para dentro, trancafiada e sem pulmões
Não respiro, apenas penso infinitamente na dor!
Se pudesse reclamar à todas as coisas e períodos
Diria: parem de doer, eu imploro aos Céus e Tempo!
Mas fui condenada à dor ao muito entender
Ao muito pensar, resta-me exatamente o pensar.
Querem o quê de mim? Arrancar-me a pele?
Deixar-me confinada em meus próprios pensamentos?
Jamais estive errada e profetizei enraizada!
Nos meus versos, sangue seco entre meus dedos.
Percebo novamente e maldição, pois vivo
De palavras e pensamentos que eternamente doerão
Mas em esperanças atrevo-me aos meus pés fincar
No chão e solo sujos - do muito ruminar.