terça-feira, 7 de dezembro de 2021

eu permaneço estática, não posso me pronunciar por completo

Eu permaneço estática, não posso me pronunciar por completo
estagnada nas dicotômicas veemências da vida,
sinto pungente inúmeras dores dentro do meu peito derramado
Não sei mais quem sou e esmaecem as certezas de quem me tornarei
tudo foge das minhas mãos confusas, pois sou múltipla
[Apenas os céus estabelecem as verdades sobre meu indefinido futuro, mas não me confidenciam notícias ou paradeiro do meu espírito]
Não me reconheço, apenas flutuo entre os vagos ruídos das lembranças do meu anterior ser
há algum tempo estou perdida, sem rumo e direção qualquer
entretanto certa de que me avistarei em certo canto amedrontada e súplica
sedenta pela nova descoberta
Terras inabitadas, não sou capaz de negar essas vontades!
tais desejos de reencontro com minha própria personalidade saliente
sufocada pelo meu desaparecimento, busco pedaços meus pelo assoalho da casa
Habito esse cômodo, mas já não possuo matéria corpórea, sou como as nuvens segregadas na atmosfera
vagante e ininterrupta.
Há em mim também tempestades e volumes
grito arisca, serei sempre carregada pelo passar dos dias?
Iluminada pela pré-existência, jamais verdadeiramente alcançada
Eu sei!
Sei que me encontrarei, a tranquilidade dessa convicção me mantém erguida no ar
ao registrar meu desespero contraditoriamente me acalmo, me tenho tranquila
Fui extraviada para lugar nenhum
me emociono com a elasticidade, sou também tantas
Quem de mim eu serei por fim?
Quem me vestirá com rosto, pele e carne?

terça-feira, 19 de outubro de 2021

nosso tempo é nosso e nada nos pertence mais

 


Nosso tempo é nosso e nada nos pertence mais
a nosso favor estão as agulhas dos relógios
e os tambores que sussurram o passar dos dias.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

novamente penso sobre a imutabilidade de todos os ontens

Novamente penso sobre 
a imutabilidade de todos os ontens. 

Não há vício tão bárbaro 
quanto a obsessão de mudar o passado. 

Não há maior tragédia 
do que a não aceitação do tempo 
que se foi. 

Tempo este que evapora-se 
entre as palmas das mãos, 
dilui-se na elasticidade 
do pensamento. 

Não há cura 
para o coração 
que não se conforma 
com o sofrimento presente, 
coração que pulsa 
firme a vontade 
de apagar as fissuras 
da própria memória. 

Penso sobre as nuances 
da existência 
e na minha incapacidade 
de lidar com a plasticidade
daquilo que é real. 

Matéria prima, 
dialogo comigo, 
toda a vida dentro 
do que aconteceu 
e não muda jamais. 

Eu sou 
minha própria fatalidade 
e o raciocínio 
é meu pior inimigo. 

Morro por ser e pensar, 
padeço das minhas circunstâncias terrenas, 
além do que foi e também será. 

Vive em mim a agonia, 
o desgosto de não poder 
desenterrar nas dilatações 
das estações aquilo 
que me dói. 

Destruo as possibilidades 
de um respirar tranquilo,
 noites bem dormidas 
e dias mais dispostos. 

Tudo que há em meu corpo
são pequenos registros cutâneos 
do que tento inutilmente 
esquecer e apagar. 

A crueldade da minha violenta consciência 
me aprisiona em entendimentos tiranos 
sobre o significado dos ciclos da vida, 
não sou mais capaz de enxergar 
fluidez no tique taque do relógio. 

O que ocorre comigo é, 
talvez, 
o pior dos castigos terrestres 
e eu percebo um grito desesperado 
me cortando a garganta, 
implorando aos céus 
pela paz que me negam 
desde que meus grandes temores 
se tornaram realidade. 

Em vão penso o quão inútil 
é o sentimento de temor, 
quando o mundo lá fora 
lamenta a ingenuidade 
dos que cogitam qualquer controle. 

A ilusão de defesa assusta os fracos. 

Estive assustada. 
Despreparada 
para suportar o que é permanente. 

Me questiono 
se a simplicidade 
das minhas interpretações juvenis 
serão eternas. 

Orando baixinho
para que a constância 
da realidade possa ser como é, 
sempre real, 
mas nem tão sempre afinca 
e feroz 
no meu coração. 

Minhas preces voltam-se
 ao desejo de trégua, 
ao menos um fragmento 
de brandura 
para minha mente, 
mas sei que 
não há saídas para os inconformados. 

terça-feira, 5 de outubro de 2021

é preciso aceitar as sombras do destino

É preciso aceitar as sombras do destino.
Compreender a dissolvência do tempo presente
Aceitar a imutabilidade de todos os ontens
A existência é o grande instante do agora.



quinta-feira, 30 de setembro de 2021

sua chegada não anunciada

Sua chegada 
não anunciada
transformou minhas 
palavras passadas em realidade. 

Nunca antes a ficção do que escrevo 
fez tanto sentido na materialidade. 

Eu costumava brincar de sentir, 
buscar na simulação de acontecimentos 
alguma prova de que 
o amor poderia ser verdadeiro. 

Nada era palpável em minha fala, 
minhas fantasias tamborilavam 
numa algoz e medonha criação, 
logo desapareciam. 

Vivia, claro, 
das formas mais intensas 
enquanto me prostrava 
a compor minhas 
imaginativas linhas. 

Entretanto tais sentimentos 
não permaneciam em mim! 

Tudo costumava ser efêmero, 
jamais raso, 
sempre transitório.

Até você acontecer. 


Diante da face do medo, 
eu alterei a sina dos covardes, 
pois te quis como sopro 
de inconstâncias 
e temores 
e a natureza inteira 
rosnou os meus vacilos. 

As flores ressacadas 
e comigo ressentidas, 
não mais presenteiam meu olfato, 
nem mesmo as árvores 
me oferecem 
a mesma penumbra 
para descanso. 

Eu não durmo. 

Toda a mata e mar 
bravejam confusas 
o desalinhamento da sorte, 
afinal 
eu não soube ser perpétua 
como o destino 
havia me reservado em tua vida. 



sexta-feira, 26 de março de 2021

ainda que os múltiplos signos do meu espírito

 


Ainda que os múltiplos signos do meu espírito

supliquem por arrebentar as ombreiras da porta

não posso eu digna aceitar isso que me pedem

pois não posso ser outra, se eu já sou o que posso

mesmo que pouco não seja, mas o que me compõe:

casca grossa, lama, asfalto e andarilhos perdidos

em marcha bruta sempre em direção alguma.


Eu sou minha carne firmada no presente

e para esta carne só o agora importa

meus mosaicos compostos em órgãos choram

o choro das possibilidades de um amanhã furtado.


Dentro de mim mármore, arabescos e enxovalhos 

tudo range e desmorona numa música eufônica

indivisível e quase mesmo silenciosa no meu peito

pois fui desavisada pelas minhas próprias palavras

e encurralada pelo tempo desarmônico e sombrio.

 

Sei que a vida é feita de detalhes 

e que do muito simples me abasteço

mas tórridas estão minhas células, digitais e longitudes

não soube nem pude de maneira alguma ser diferente

nem mesmo dar ao mundo além do que posso dar.


Dias e semanas passas assim devagar

mesmo que na surrealidade do tempo

os anos me sejam roubados depressa

meu corpo orquestra seus finos lamentos

meus figos, arbustos, notas de sol maior

lamentam as sinfonias do meu corpo miúdo

corpo tolo em que tudo aquilo que eu quero

conflita em exato com aquilo que não posso ter.

quarta-feira, 17 de março de 2021

inócua presença

 



Inócua presença

que me oprime

convivo contigo

desde meus mais

primórdios dias


serei eu perseguida

pela tua sempre

existência aflita?


tu lembras dos tempos apressados

onde de todos os dias nós bebíamos

de todas as noites nos alimentávamos

tudo era absoluto, tudo era novo

e engolíamos a realidade crua

sedentas pelo mistério furtivo


costumávamos ser caçadoras

de sentimentos ímpares, duais

tudo queríamos sentir um pouco

nada nos bastava em absoluto

as tempestades das tardes

e as manhãs de nevascas

eram como queijo e faca

na mesa posta.


sempre famintas

continuamente insatisfeitas

consumíamos, devorávamos

tudo que os céus nos entregavam

como presentes e oferendas

para crescermos e sermos una

em nosso suplício tornar 

a fênix de fogo e brasa.


pois aqui agora

finalmente calma

se serei logo eu

sempre atormentada

pelo teu caráter

insaciado?


revelarei então as verdades

sobre eu mesma insana ser

esse tormento que me cala.

terça-feira, 16 de março de 2021

nada me importa

 

Nada me importa

se a espuma do tempo

me engole viva

e as teias corruptas

da noite uiva me seduzem

e me mantém aprisionada.


Nada posso fazer

se meus silêncios

não são ouvidos como

nectáreos martírios

e suplícios de amparo.


Nada faz sentido

se apenas nos apetrechos

dos meus bolsos restritos

carrego as conhecidas chaves 

do meu segredo irrevelado.


E nada posso eu dizer

se as epílogas confissões 

que sucateiam meu corpo

e bebem do meu espírito

me abandonaram confim

misantrópica no íntimo meu. 

segunda-feira, 15 de março de 2021

ébria existência que é bela e trágica

Ébria existência que é bela e trágica

Repousada em puros silêncios à noite

Em minha cama escura murmurando

Segredos que não ouso aqui revelar


Acordo e enfim me conflito

Quem serás tu?

Que soturno me eleva

Quem serás tu?

Que é amargo e não matéria

Quem serás tu?

Que em promessas secas

Me abriga em peito ardente.


Peito teu no meu leviano

Que sóbrio acredita no amor.

Seremos nós dois?

Aguardo ansiosa

Na pura idealização

Do mistério do aconchego

Do vão da porta meio aberta.


Quem serás tu? Quem? Quem mais além de ti, quem mais além de nós?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

o hemisfério norte do teu corpo traçam tua barba e voz

 


O hemisfério norte do teu corpo traçam tua barba e voz,

mais presentes para mim que teus olhos e cabelos. 

Não sei o motivo de me prender em teus finos detalhes 

mas mesmo sem explicação me perco em silêncios

nas névoas a traçar rotas pelas tuas formas e minúcias.


Me degusto de tuas costas celestes 

e os teus sinais de nascença brilham

luminosos a me apontar direções sem razão 

sinais que turvos me levam desenfreados

aos teus locais de inesperada beleza. 


Me prostro à te admirar por toda manhã enquanto dormes, 

a te navegar entusiasta, me encho de ânsias e poderes

as ondas cardinais da tua respiração são como bússola 

sei que do teu corpo posso descobrir o que quiser, 

e teu torso cálido repousa em meu colchão e eu diluo. 


Passo a ponta dos meus dedos pelos teus pés desafiada, 

ao alcançar teu calcanhar percebo um vibrar inaudível 

te arrepiar os pelos das pernas e rio minhas bobas risadas

de quem não se contenta e deseja mais. 

Eu quero mais de ti.


Ao beijar-te a cintura e barriga, noto que teu sono se afasta, 

mas não te quero desperto, te quero em quietude suprema

assim posso partir solitária pelas minhas cruzadas e descobertas.


Então permito o tempo passar assim, 

curiosa pelo teu cheiro que flutua pelo ar do meu quarto. 

enquanto tu és o pélago imenso de oscilações marítimas, 

e passo a sonhar acordada em marcar meu chão no teu peito.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

às vezes me percebo de fora

 


às vezes me percebo de fora 
e tão somente desse local 
não sou nítida, 
não me distingo. 

às vezes, menos do que posso, 
mais do que devo, 
vago entre as atmosferas 
que me cobrem 
e me observo os detalhes 
que tornam eu, 
ser eu para os outros. 

aos meus olhos não me reconheço, 
mas curiosa 
me atento aos meus verbos e trapaças. 

quem é esse ser que vos fala? 
que os cumprimenta, 
que os pisca entre frases 
e dizeres tímidos? 

lá dentro é tudo tão simples,
tão claro, 
direto e meu. 

aqui fora eu me assombro, 
não sei dizer quem é essa figura. 
de rosto pálido
 e mãos múltiplas sobressaídas 
entre gaguejos e miúdos. 

quem é essa que me compõe, 
que me conta aos atentos devagar? 

quem é essa que sou 
aos olhos dos que me cruzam? 

quem é essa de voz 
tão mansa, tão terna, 
que teme perder a doçura?
sou eu? 
ou pedaço meu 
que escolho a dedo 
contar para os que me ouvem? 

e em minhas piores angústias 
e temores, 
é esta que me escapa 
quando não estou vendo?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

muito a dizer, acabo por registrar

 



muito a dizer, acabo por registrar. escrevo porque escrevo e não tenho nem lembranças

para narrar as épocas em que o ímpeto do verbo não estivesse a caminhar junto comigo

meu prazer é este: o meu perceber e registrar este justo espaço entre o observar e anotar

e os vestígios das plásticas palavras ainda não ditas são o maior de meus desassossegos

logo a atemporalidade e continuidade são a arte perpétua da escrita que aqui transporto

escrevo porque escrevo, escrevo porque preciso e não as palavras meramente regurgito

cada vírgula é pensada como bailes boêmios entre meus dedos e consciência constante

observo, sinto, transcrevo, registro quem sou, quem fui e talvez até premedite quem serei

sinto que me conto ao mundo toda a vez, ainda que eu não seja lida, tampouco lembrada

e a minha vida faz sentido assim desenfreada e nas lacunas de tempo em que estarei viva

permanecerei viva e valem minhas palavras, mesmo que só e ainda quieta eu permaneça.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

as quatro paredes do meu quarto

 


As quatro paredes do meu quarto

Me atormentam por todo o dia

E à noite me trancafiam

E me transformam

Em cativa.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

o que seríamos se tivéssemos sido

 



o que seríamos se tivéssemos sido

até onde teríamos ido sem que o acaso das linhas

tivessem por fim arrebentado o chão, assoalho e madeira

até onde, bem meu?


se antes de esqueceres como são meus olhos ao dormir

antes de você notar e decorar meus modos e manias

ou mesmo até após uma certa ou outra briga

e beijos retalhados entre impossíveis amanhãs

e as notas de café que guardo nos lábios

não pude eu me contar à ti primeiro


seríamos o quê após nós sermos?


talvez a comprar móveis e a decorar a casa

a colocar duas colheres a mais de tempero porque assim preferes

e sempre rir do mousse em teu bigode


seríamos muito, se não perturbados 

pelas impossibilidades e sempre quases

e não deixássemos esse tanto ir

não, não conservamos o tempo dos relógios

e aquelas marcas de sábado

no meu corpo já sumiram e no teu

não tive a sorte de me fazer lembrar


o que seríamos se tivéssemos sido

se no silêncio da tarde a rangida da porta

anunciasse tua volta cansada de outros lugares

e eu pudesse te receber com sopros e brumas

de braços abertos coberta pelas ondas dos teus cabelos


o que seríamos se pela ruas passeássemos 

das mãos âmbar entrelaçadas

numa tarde alaranjada que escreve 

teus nomes nas nuvens

pois tu estás em tudo

em mim nos minérios nos nomes e néctar

nos velhos tambores avantes da memória


o que seríamos se eu pudesse celebrar tuas conquistas

se escolhêssemos filmes ruins para noites

tão boas de intimidades e beijos na nuca

e tu percorresse teu rosto são no meu corpo fresco

e cravasse tua boca entre minhas pernas fremes

se após o clamor noturno apenas dormíssemos

e acordássemos e repetíssemos todos

os mesmos dias fluviais


o que seríamos se o acaso tivesse nos unido

mas não, não estais aqui do outro lado da cama

não estás a gargalhar ou esbofetar

os travesseiros pelos prazos apertados

não estás a segurar minhas mãos ou beijar

minhas pernas notívagas

não chegas mais tarde 

e nunca sequer fosses

embora pela manhã.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

mapeei meu peito certa

 



mapeei meu peito certa de que

ao lançar-me às cruzadas

encontraria, talvez

nas cernes estirpes

após soturnos mares

um pedaço de terra

estreito pedaço de chão e crosta

e toda lama, lodo, barro e limo

planta, flor e vegetal

agora à mim pertencem

terra esta que não carrega meu nome

nem a meu respeito haverão registros




todas as lápides erguidas

 



todas as lápides erguidas 

atrás de minhas mudas palavras

tentam desesperadas,

mas não falam de amor

lágrimas martírios são

ainda que de águas eu seja feita  

e por águas eu seja abençoada

estou fluida entre inconstâncias

perpassada e sempre contradita

nos olhares meus que escondem

enraizadas verdades não ditas

sobre não pronuncias de amor

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

gosto, e como gosto do nosso exagero

 


Gosto, e como gosto do nosso exagero
mantendo-me aqui em meu cativeiro
será que está ao invisível olhar
ou tem o sono que me rouba?

Sangue perdura, perfura
abre aspas e palpita o peito
Eu o amo como está o céu a amar
seu oposto profundo e enigmo, mar

eu sei de muita coisa

 



Eu sei de muita coisa, mas,
Meu bem, não sei de tudo
Vivi muitas histórias, mas
Foram tantas, que são poucas.

Sei de gostos de diversas bocas,
Camas foram poucas, mas
De tantos amores e paixões
Fiz-me louca.

Ah, se eu parar pra contar
Tantas ruas, segredos e memórias,
Se for pra remorar cada santo dia,
A noção do tempo me perde, silencia.

E digo-te de passagem,
A minha sublime verdade,
Que foram sim, muitas idas e vindas,
Para meus poucos anos de bebida,
Poucos anos em mãos, muito cansaço da vida. 

Digo-te afobada,
Digo-te em uníssono,
Digo-te que te amo.

E que por saber de tantas bocas e perfumes,
Por ter contado estrelas acreditanto em promessas,
Sei que é em ti meu caminho certo,
É você, poeta, quem quero.

o que eu lhe diria

 

O que eu lhe diria,
Se após essas palavras
Eu me possuísse vazia?

O que eu faria
Se após o rompimento,
Após todo o sofrimento
Eu me degolasse em lágrimas
De arrependimentos
E desgraças?

Mas eu o amo, ininterrupto céu
Eu o amo e amar traz-nos a façanha
A barganha da paciência

Esperar-me-ei, pois não sou completa
Não tenho a completude
Para dar-te toda a felicidade
Que a descontinuidade da minha incoerência
Não permite

Esperar-me-ei, pois te esperei antes
Por extensos e sofridos anos
Esperei ansiosa e até mesmo próspera
Pela vinda, pelo beijo, pelo nosso âmago
De temo-nos por inteiros
Em nossas intermináveis tardes de amor

Que hoje não mais quimera é,
Mas o presente da minha eterna veneração
Desse teu olhar manso
Navegante do meu corpo.

Porém
Mapeaste minha individualidade,
E me condenaste ao previsível
Mas

Esperar-me-ei
Pois eu sei
Que é no meu seio
A tua real morada.

acho que serei atormentada

 


Acho que serei atormentada
por todos os sábados e domingos
E todas as tardes de chuva me recordarão
que vivo em tempos sombrios
Carregarei no seio a memória
de beijos e falas que até mesmo o mar
nos visitava para contemplar

Pela orla que cruzastes em meus deleites
feito de mim a meretriz de suas noites boêmias
Ancorei-me em teus braços, ao desespero
em choro e em lamento, afinal
Sou mulher.

Neguei ser menor e tropecei utópica, certa
de que haveria em ti eternidades
do meu lar.

Contei os fadários peregrina
de suas costas maviosas que tantas
já traçaram suas próprias rotas.
Bebi dos teus olhos café que nuviosos
proclamavam baixinho, inaudíveis
que eram negros abismo, não bebida.

Recusei, então, perpetuar o que minhas cartas
já o haviam feito. Não há como fugir
do amor que eu mesma já contei
o amor que meus lábios presenciaram e
que minha carne em nostalgia revela
O líquido desse amor violento
eternamente em mim manchado.

Desconheci tua fúria,
me fiz tola diante de erros irremediáveis
mentiras e minhas eternas fugas dissimuladas
as quais não somente eu cometi.

Não haverão de negar de que
apesar de impuro, era amor.

Fui feliz e de ti me satisfiz
mas também
fui amarga, fria e cometi pecados
e abandonos, quais não me perdoo
roubei de ti o brilho em que me envolvias

Eu deitei em teu colo incontáveis vezes
me entreguei a ti, envergonhada
e me tomaste mesmo em nosso confronto
pois não admitíamos nosso companheirismo
e amizade além paixão
Esse real sentimento que sabe se lá como
se perdeu nos mares, nas tardes
nas músicas e nos olhares
Perdoe-me, Céu
Te traí.

Perdoe-me, Céu
Te traí.

Mas, te culpo magoada pelo aviso que deverias
ter-me dado
de que já em teus braços
não me cabia mais espaço
de que teu passado lhe tomaria o atraso
que eu certamente devo ter causado.

Sou assim, pequena, atrapalhada
em minhas linhas, náutica
eutópica, competente de todo o amor que guardo
e todo amor que espero
recomeçar a dar
se algum par de olhos, algum dia
me enfrentar.