quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Falam comigo todas as plantas

 
Falam comigo todas as plantas
Matas, musgos, terras e insetos!
Seus arbóreos recomeços e tangentes

Também a terra me confessa pecados
Intrínsecos às suas bem feições
 
Somente estes me compreendem
E me ensinam todas as vertentes
Sobre a aura constelar a dizer:
A chama da loucura em ti vive
Não repreende teus desatinos
Respira o ar que em ti pulsa
Registra as sílabas da atmosfera
E adquire todas as instâncias
Das ambrósias e falésias
 
Eu sigo meus caminhos condenada
Ao ouvir o murmúrio das gramas
Nuvens e até mesmo a primavera!
 
Abdico minha existência itinerante
Para amar tudo que me é prometido
Em sussurros e segredos me revelam
O mar, gatunos e abelhas:
Pávidos os que sim olhos possuem
Mas incapazes de ver a beleza imaterial
Impregnada em todo o ser absoluto!
 
Ouça! Até ela,
A madeira, à mim traduz interminável
Seus dias cinzentos e as dores agudas
Enquanto uma xícara de chá
Esquecida na ranhura da mesa
Gargalha suas indigestas bocas.
 
Crês? A todo instante gritam as coisas
A sinfonia do planeta é orquestrada
Enquanto só eu gatinho
Tateando meus terrenos
Em busca vigilante
Pela chave das traduções.
 
Minúcios e burbúrios
Da página em que agora escrevo
Me ninam ao pé da cama que chora
E eu sinto dó da cama e a acalento.
 
Não quero paz, apenas aqui
Envolta nos mantos dos verbos
das cóleras, mágoas e lascívias
das cortinas, folhas e luar
existo e quero estar.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Ofereço-te meus lábios

Ofereço-te meus lábios,
minha doce substância
às sombras do meu ser
nos meus subterrâneos.

De mim tudo agora sabes
não ousei esconder-me de ti
nem deixar de te provocar
minhas linhas e contradições.

Açucaradas partes e partes
vou-me entregando afoita
meus lírios e lamentos
líquida, desfeita em pó.

Dissolvo-me em néctar
seiva obscura e perversa
lacunas do meu coração
hora vazio, hora repleto.

Entre minhas pernas
obscuras criptas incolores
para tua então tua caça
após infinda morada.

Faça-me eternamente tua
sem tardanças e lentidões
continuamente tua, apenas
repleta, ínsita masmorra.

Amo-te assim íntegra
cheia de saudades
palavras tão simples
devota ao nosso agora.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Sinto-me só, abandonada e esquiva.

Sinto-me só, abandonada e esquiva.
Ninguém percebe minha existência!
Jamais me importei com a solidão,
mas agora vivo com saudades frias
de algo que não vivo, além lembranças.




segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Tudo dói na completude da existência e dos conhecimentos

Tudo dói na completude da existência e dos conhecimentos
Não há espaços para respiros, pois em absoluto tudo dói.
Abro meus olhos para apreciar as manhãs - como bem digo
Mas não consigo vivenciar os dias bem vividos, pois dói.

Sentindo toda a Natureza ao meu redor, que também dói
Me embebedo do que há de mais puro dentro do saber
A consciência de todas as coisas também me machuca
Enxergo tudo como fractais que se entrelaçam em dança.

Certa vez disse - os pássaros, ruas e faróis doem
Anos se passaram e nada em concretude se transformou
Tudo permanece ainda em dor; sem saber como fugir
Encontro-me andando em círculos, extraviada.

As palavras de mim fugiram e distanciaram-se
Não mais domino o vocabulário que me transtorna
Regurgito para dentro, trancafiada e sem pulmões
Não respiro, apenas penso infinitamente na dor!

Se pudesse reclamar à todas as coisas e períodos
Diria: parem de doer, eu imploro aos Céus e Tempo! 
Mas fui condenada à dor ao muito entender
Ao muito pensar, resta-me exatamente o pensar.

Querem o quê de mim? Arrancar-me a pele?
Deixar-me confinada em meus próprios pensamentos?
Jamais estive errada e profetizei enraizada!
Nos meus versos, sangue seco entre meus dedos.

Percebo novamente e maldição, pois vivo
De palavras e pensamentos que eternamente doerão
Mas em esperanças atrevo-me aos meus pés fincar
No chão e solo sujos - do muito ruminar.




terça-feira, 13 de setembro de 2022

Desde que você partiu

Desde que você partiu
sobre o abandono
muito posso falar

Queria que não fosse assim
Ter-te apenas para mim

Tudo não foi o suficiente
Hoje compreendo enfim
A fatalidade do inevitável


As narrativas da minha realidade

As narrativas da minha realidade 
se constroem num atemporal 
sofrimento desesperado, 
não há saídas para minha derrota. 

Aceito as lâminas da minha 
juventude perdida. 

Tudo deixei ir 
ao me encontrar acorrentada 
nas persistências 
da minha penitência prematura. 

Ouso os lamentos 
das minhas partes sangrentas, 
dispostas entre minha carne ferida. 

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Dou voz ao inevitável

Dou voz ao inevitável:
a dor que me padece.

Fragilizada após tudo que procurava
ter ido de encontro ao que me destrói.

Cri em cada palavra doce pronunciada
cega pelo amor e pela paixão prometida

Não calculei os óbvios caminhos
pelos quais estávamos destinadas.

Tudo parece-me uma inexorável fatalidade
presa nas mãos de um destino irremediável.

Não me reconheço no reflexo do espelho
muda e cheia de tormentos eu me comporto.

Sofro em tantos sintomas e sentidos
norteada pela entrega ao abismo.

Há em mim uma vasta escuridão
que me reveste incansável e feliz.

Não satisfeita ainda me lamento
pela falta de dignidade que causei.

 

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

A única verdade

A única verdade que me compõe é o Tempo 
e nele confio todas as minhas forças. 
Como se eu quase compreendesse 
as vertentes do Universo. 

As três dimensões do agora 
são minha compreensão 
e eu designo meu amor verdadeiro
à Natureza. 

Quando olho para o Céu, 
encerro em mim prisões 
e firmezas. 

Há muito atento 
às revelações do etéreo. 

Jaz em mim o refúgio, 
a atroz fatalidade. 

Amo a vida, 
amo as cicatrizes 
no meu corpo temporárias. 

Beijo-as em gentilezas, 
não mais cruel comigo, 
resido na própria tranquilidade 
do tempo presente. 

Nada é mais certo e secular. 

Minhas múltiplas variações 
dedicam-se ao atino 
da consciência viva. 

Meu corpo morrerá, 
mas devolvo todas 
as energias ao entendimento, 
estou pairada febril na atmosfera! 

Repleta de agradecimentos, 
habito meu gradual esmaecimento. 
Morro devagar, mas perpétua sou.

Irremediáveis locuções do agora

Irremediáveis locuções do agora. 
Me fiz casta para sua chegada, 
continuamente pronta 
para seu calor 
me envolver
em panos quentes. 

Estive à espreita, 
nas margens 
das ausências
e deslembranças. 

Sou tua como se 
não coubessem em mim 
espaços para resignar 
a verdade absoluta. 

Sempre te amei, 
hoje bem sei. 

Você se fez presente 
em todos os meus momentos 
da infância e das fases.

Sou quem sou por te amar, 
me edifico na tua voz e semblante. 

Participar do instante 
é compreender,
em suma, 
as chaves lembranças 
do teu ser sombrio 
me embebedando 
de saudades 
do que ainda 
viria a viver. 

Você sempre esteve aqui, 
repito em ordens e fragmentos, 
agarrada aos pés da minha aurora. 

Meu peito fiel 
eternamente manchado 
pelo sentimento descabido. 

Eu te amei por tantos verões!
Tantas idas e vindas 
das portas do destino, 
justamente sobreposta. 

Nada é capaz de me roubar de ti, 
te pertenço em milhares de odes e brumas. 

Néctar da honestidade, 
da veracidade, 
do sumo 
da constância. 

És meu doce sangue 
pulsante nas veias vivas 
nos meus braços 
e pernas trêmulas. 

Eu sorrio algoz, 
não há querer 
mais perpétuo 
em mim. 

Você está eternizada 
no meu ser 
desde que 
me posso recordar, 
nos duros intervalos 
das durações crescidas.

Nas tragédias contidas, 
nas jaulas e presas. 

Nem tudo sempre foi como é, 
o grotesco me abarrotou e sujou, 
mas me limpei 
para viver teu amor. 

Me banhei em laços 
e águas da fragilidade, 
reconstruindo meus 
pedaços perdidos. 

Você está repousada em mim 
em crostas macias, 
paradoxalmente 
nos altares da memória. 

Me questiono em retalhos, 
os estilhaços não mais 
me assombram. 

Estou pronta, 
pronuncio aos Céus. 

Guardada em segredos, 
entregue ao absoluto.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

A realidade é certa

A realidade é certa, 
não há como fugir do Tempo. 
Quando pensei ser foragida 
de suas afiadas garras, 
me percebi presa em arame farpado. 

Sempre me encontro refletida 
nos espelhos da verdade. 
De fronte com minha mais imagem crua, 
desnuda e destituída de qualquer 
desmanche do meu corpo. 

Penso sobre meus lagos internos, 
onde as águas me banham na oculta 
imagem do meu ser. 

Venha, ouça meu chamado! 
Te peço e imploro de joelhos 
para mais um intervalo 
da alma transladada em vertentes ácidas. 

Eu sou o que sou e
não posso ser diferente do que mostro, 
minha mais pura exatidão. 

Caibo onde me cabem espaços e intervalos, 
confiante de que minha pequenez 
não me abandonará nos momentos 
de alvoroço da vida. 

É sempre assim, 
quando me noto 
nas encruzilhadas da alma ínfima. 

Me aflige ficar às margens do esquecimento, 
será que serei eternizada?
Onde me aguarda a própria realidade? 

Não há como fugir do Tempo, 
repito em mesmas ordens. 
Me abraçam as durações e vivências, 
o passado se faz presente e futuro, 
determina minhas leis e regimes. 

Sinto como se o nada fosse 
o mais absoluto tudo. 
Assim se fazem meus sentidos ilógicos, 
mas continuamente plásticos. 
É tudo palpável dentro de mim, 
minhas vísceras são tão reais 
quanto meu espírito. 

Agora me encontro forte, 
pronta para encarar 
tudo aquilo que neguei 
durante meus anos dissimulados. 

Preparada para seguir 
meus caminhos determinados, 
eu creio na calma. 

Me entrego ao dito incerto, crê? 
Assim sempre sigo, 
brutalmente suave.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Não sei como pude negar-te minhas palavras

 
Não sei como pude negar-te minhas palavras
não amar-te em todos os meus instantes

se eu soubesse que nesse momento surgiria
minhas malas jamais teriam sido feitas
e os móveis não venderia aos relicários.
 
Mas sei que sempre esteve aqui silenciosa
rodeando meus próprios sistemas
e hoje finalmente sou refletida em teus calendários


quarta-feira, 27 de julho de 2022

Traço uma a uma das linhas imaginativas

 Traço uma a uma das linhas imaginativas 
até cravar teu nome dentro de mim. 

Ao passo dos dias que se passam, 
reconheço teu semblante como parte 
do mistério que há em todas as coisas não ditas. 

É bom não sentir frio. 

Reconheço tua carne como minha, 
parte afixada no meu peito 
que se embebeda de saudades suas. 

Você não foi breve, 
mas axioma de séculos contidos 
em olhares ciclopes que se encaram 
e estremecem inaudíveis. 

Nosso segredo contido 
atrás das membranas 
nos estabelece 
como o perpétuo amanhã 
que sempre virá, 
pois nos pertence. 

Você é como não sentir medo. 

Sinto como se a cada centímetro 
do meu ser sobrevivente, 
eu pudesse deslocar minha carne 
e te entregar em constantes certezas 
sem rupturas. 

Se assemelham às lembranças 
do que não existiu, 
a própria imortalidade dos transcritos. 

Somos loucos, 
eu te disse de manhã. 

E, 
dentro das loucuras, 
se encaixam todas as vozes. 

Marcado no meu corpo, 
você faz sua totalidade 
e permanência. 

Não soube e 
nem quis te dizer não. 

Nos altares da existência, 
tudo consumimos sem cessar 
o levante do apetite e sede. 

Você se faz transparente à mim 
e eu adentro tua cerne sem juízos.
 
Você sempre esteve aqui, 
escancarado à minha frente 
e precisamos de certos embaraços para, 
por fim, 
entender que nossas sombras 
e luzes 
opostamente 
são semelhantes. 

Eu te agarro, 
me finco nas tuas peles e mucosas 
construindo os outros olhos chamam de lar, 
muito ciente de que é mais do que isso, 
é além. 

Não estou em ti certas horas do dia, 
mas a todo instante eu te habito. 
És quem sou.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

tua voz serena

tua voz serena, tão rouca e impassível
furta a brandura dos meus pensamentos.
a ternura dos teus gestos para comigo
decompõe minhas armaduras construídas
milimetricamente com o passar dos anos.

e eu passo a pensar em ti durante os dias
a te desejar todas as noites de tormentas
a proferir através de minhas mãos atentas
minhas vontades insanas de te absorver
e mastigar teu espírito em flagelo brusco.

como se nada me bastasse sempre e só
as manhãs se repassam na minha dicção
montanhas prometidas e também ovelhas
se tornam desejos maiores de cumprimento
do modo que mesmo se nada mais fosse solene.

a misantropia das tuas mesuras sinceras
se faz amarga dentro dos meus anseios
preciso, cogito, adentrar você inteiro
devorar teu íntimo mais calado e sombrio
te fazer meu e mais um pouco, visceral.

não temo as aproximações graduais
nem mesmo me entregar com tanta sede
o agora nos infinitamente pertence
e sei que as terras esperadas do amanhã
podem até mesmo não nos ocorrer.

novamente te digo que só o agora interessa
enquanto durar, impecável está e será
nada mais realmente importa à mim
tudo é como verdadeiramente é e sempre foi
e eu me abasteço do sempre presente profano.

me engula viva e transparente, te pertenço
prostrada às tuas ambições mundanas
me faça tua por agora, o que me basta
o amanhã não me alimenta irrestritamente
mas a sua presença e solidão animalesca.

permaneça durante os hojes transcendentes
pois faminta pelo teu fundo taciturno
eu me satisfarei incansável também
esfomeada pelas tuas raivas constantes
e ávida pelos teus olhos silenciosos.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Nada sei sobre o amor

Nada sei sobre o amor, Clarice. Busco e jamais encontro. Há dez anos o procuro incansável, sedenta por algo que ainda não tive o prazer de viver. Minhas palavras fáceis denunciam minha talvez imaturidade perante à grandeza. Como posso ser poeta sem nunca? Como se quase? Experiencio através da fala e olhares aquilo que desejo, observo atenta nos corredores e esquinas. Eu aceito a sina dos condenados, infindavelmente áspera. Perguntei às representações fantasmagóricas - inútil - se haveria espaço para mim na certeza, mas não obtive respostas. Ignorada pela presença do agora, me faço castelo desabitado. Construído apenas para breves visitações, sem resquícios de estadia. Sou o alegórico, figura distinta sem forma. Sou um livro abarrotado, esquecido nas prateleiras dos transfigurados. Todo dia há morte em mim, morro e renasço a cada minuto do tiquetaquear. Sem destreza, não sei o que faço com minhas mãos trancafiadas. Estão atadas nos intervalos e vigências, não há escapatória para os sentenciados. Intranquila não durmo e pondero sobre todas as coisas que me regem, os artefatos e anseios. Nunca mais serei a mesma após essa noite e após todas as outras noites que virão. 

Nas argumentações do seu ser faminto

Nas argumentações do seu ser faminto
encontro satisfação genuína e transparente
como uma água viva eu me remonto
à espreita da tua talvez demora 

Que os dias não nos sejam roubados
e possamos, por fim, nos tornarmos
os famélicos animais selvagens 

As lamentações passadas
feias, pesadas e torrenciais
me preenchem agora sim
e suspeito além
de que sempre 
me espreitarão

Tudo me interessa
as longas viagens
os questionamentos
os beijos prolongados
a vontade percebida

Me arrisco a confessar
que meus múltiplos eus
um a um diante de ti
se divertem e
se alimentam

Ao fim imploro que
as profundezas da dor 
do não reconhecimento
e dos adeuses 
não nos descubram
eu peço.


terça-feira, 19 de julho de 2022

Interesso-me pelas distâncias

Interesso-me pelas distâncias, 
as despedidas são sagradas. 

Agora que sou só, 
penso sobre os gestos passados, 
afago-me nas próprias lembranças. 

O amanhã é irremediável, 
me cubro de incertezas 
sobre o que não é possível prever ou deduzir. 

Não há escapatória das mãos do Tempo, oh sim. 
Tanto pronuncio a respeito dele, 
tanto reflito sobre o passar dos dias 
desde que me escapou entre os dedos e frestas. 

O que perdemos nos caminhos intangíveis 
lá permanecem, 
estáticos e presos das garras da memória. 

Sinto como se não houvessem jamais existido, 
jamais acontecido. 
Como uma fotografia envelhecida 
de outra pessoa 
que já não me representa. 

Observo sempre atenta, 
espectadora fantasma 
da minha própria existência.

O que há entre os prelúdios dos intervalos? 
O que há entre os espaços vazios 
que me atormentam incansáveis? 

Emudeço, 
sempre sem respostas 
para minhas indagações, 
aceito o fardo do destino que não creio. 

As partidas são irremediáveis 
e o adeus é constante. 

Todos são perdidos 
entre minhas vírgulas 
e cansaços. 

Parto sem direção, 
apenas em velocidade abrupta 
como se fugisse de algo 
que me persegue e amedronta. 

Não compreendo meus passos esquivos, 
a solidão em que permaneço. 

Eles se vão, 
um a um em longitudes bárbaras. 

Apreendo-me em guerras 
com o reflexo do espelho, 
sempre contra minha própria imagem 
eu luto e apavoro-me. 

Talvez o animal tenha sido sempre eu. 
Já não tenho a quem recorrer, 
basto-me entre meus lençóis e manhãs. 

Hoje perco o sono mais uma vez, 
sem saber o que me abate ao certo. 

Flutuo entre minhas vagas recordações 
dos bons momentos. 

Sei que vivo cada momento 
como se o último fosse, 
como se os segundos pudessem 
- e podem - 
se esmaecer. 

Afinal, 
conheço-me e 
talvez eu esteja enganada, 
é provável que o futuro não seja descabido, 
ele é o que sempre fui: 
desumana. 

Revestida de arrependimentos 
por ser o que sou 
e viver diante do não-acaso 
e a fatalidade da escuridão. 

Não posso, 
meu Deus, 
vencer essa batalha 
prometida. 

Eu perco, 
perco os que já foram 
e perco os que virão. 

Sozinha. 

Além disso, 
permaneço munida 
de certa esperança aguda, 
talvez aguardando o instante 
em que alguém quebrará 
meu silêncio 
e me dirá que estou 
completamente errada, 
que sou capaz sim 
de ser agraciada 
com o que é contínuo e manifesto. 

Espero, espero e espero. 

Que os Céus 
me tragam essa paz, 
que os Céus permitam-me 
dormir.