Ainda que os múltiplos signos do meu espírito
supliquem por arrebentar as ombreiras da porta
não posso eu digna aceitar isso que me pedem
pois não posso ser outra, se eu já sou o que posso
mesmo que pouco não seja, mas o que me compõe:
casca grossa, lama, asfalto e andarilhos perdidos
em marcha bruta sempre em direção alguma.
Eu sou minha carne firmada no presente
e para esta carne só o agora importa
meus mosaicos compostos em órgãos choram
o choro das possibilidades de um amanhã furtado.
Dentro de mim mármore, arabescos e enxovalhos
tudo range e desmorona numa música eufônica
indivisível e quase mesmo silenciosa no meu peito
pois fui desavisada pelas minhas próprias palavras
e encurralada pelo tempo desarmônico e sombrio.
Sei que a vida é feita de detalhes
e que do muito simples me abasteço
mas tórridas estão minhas células, digitais e longitudes
não soube nem pude de maneira alguma ser diferente
nem mesmo dar ao mundo além do que posso dar.
Dias e semanas passas assim devagar
mesmo que na surrealidade do tempo
os anos me sejam roubados depressa
meu corpo orquestra seus finos lamentos
meus figos, arbustos, notas de sol maior
lamentam as sinfonias do meu corpo miúdo
corpo tolo em que tudo aquilo que eu quero
conflita em exato com aquilo que não posso ter.