quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

gosto, e como gosto do nosso exagero

 


Gosto, e como gosto do nosso exagero
mantendo-me aqui em meu cativeiro
será que está ao invisível olhar
ou tem o sono que me rouba?

Sangue perdura, perfura
abre aspas e palpita o peito
Eu o amo como está o céu a amar
seu oposto profundo e enigmo, mar

eu sei de muita coisa

 



Eu sei de muita coisa, mas,
Meu bem, não sei de tudo
Vivi muitas histórias, mas
Foram tantas, que são poucas.

Sei de gostos de diversas bocas,
Camas foram poucas, mas
De tantos amores e paixões
Fiz-me louca.

Ah, se eu parar pra contar
Tantas ruas, segredos e memórias,
Se for pra remorar cada santo dia,
A noção do tempo me perde, silencia.

E digo-te de passagem,
A minha sublime verdade,
Que foram sim, muitas idas e vindas,
Para meus poucos anos de bebida,
Poucos anos em mãos, muito cansaço da vida. 

Digo-te afobada,
Digo-te em uníssono,
Digo-te que te amo.

E que por saber de tantas bocas e perfumes,
Por ter contado estrelas acreditanto em promessas,
Sei que é em ti meu caminho certo,
É você, poeta, quem quero.

o que eu lhe diria

 

O que eu lhe diria,
Se após essas palavras
Eu me possuísse vazia?

O que eu faria
Se após o rompimento,
Após todo o sofrimento
Eu me degolasse em lágrimas
De arrependimentos
E desgraças?

Mas eu o amo, ininterrupto céu
Eu o amo e amar traz-nos a façanha
A barganha da paciência

Esperar-me-ei, pois não sou completa
Não tenho a completude
Para dar-te toda a felicidade
Que a descontinuidade da minha incoerência
Não permite

Esperar-me-ei, pois te esperei antes
Por extensos e sofridos anos
Esperei ansiosa e até mesmo próspera
Pela vinda, pelo beijo, pelo nosso âmago
De temo-nos por inteiros
Em nossas intermináveis tardes de amor

Que hoje não mais quimera é,
Mas o presente da minha eterna veneração
Desse teu olhar manso
Navegante do meu corpo.

Porém
Mapeaste minha individualidade,
E me condenaste ao previsível
Mas

Esperar-me-ei
Pois eu sei
Que é no meu seio
A tua real morada.

acho que serei atormentada

 


Acho que serei atormentada
por todos os sábados e domingos
E todas as tardes de chuva me recordarão
que vivo em tempos sombrios
Carregarei no seio a memória
de beijos e falas que até mesmo o mar
nos visitava para contemplar

Pela orla que cruzastes em meus deleites
feito de mim a meretriz de suas noites boêmias
Ancorei-me em teus braços, ao desespero
em choro e em lamento, afinal
Sou mulher.

Neguei ser menor e tropecei utópica, certa
de que haveria em ti eternidades
do meu lar.

Contei os fadários peregrina
de suas costas maviosas que tantas
já traçaram suas próprias rotas.
Bebi dos teus olhos café que nuviosos
proclamavam baixinho, inaudíveis
que eram negros abismo, não bebida.

Recusei, então, perpetuar o que minhas cartas
já o haviam feito. Não há como fugir
do amor que eu mesma já contei
o amor que meus lábios presenciaram e
que minha carne em nostalgia revela
O líquido desse amor violento
eternamente em mim manchado.

Desconheci tua fúria,
me fiz tola diante de erros irremediáveis
mentiras e minhas eternas fugas dissimuladas
as quais não somente eu cometi.

Não haverão de negar de que
apesar de impuro, era amor.

Fui feliz e de ti me satisfiz
mas também
fui amarga, fria e cometi pecados
e abandonos, quais não me perdoo
roubei de ti o brilho em que me envolvias

Eu deitei em teu colo incontáveis vezes
me entreguei a ti, envergonhada
e me tomaste mesmo em nosso confronto
pois não admitíamos nosso companheirismo
e amizade além paixão
Esse real sentimento que sabe se lá como
se perdeu nos mares, nas tardes
nas músicas e nos olhares
Perdoe-me, Céu
Te traí.

Perdoe-me, Céu
Te traí.

Mas, te culpo magoada pelo aviso que deverias
ter-me dado
de que já em teus braços
não me cabia mais espaço
de que teu passado lhe tomaria o atraso
que eu certamente devo ter causado.

Sou assim, pequena, atrapalhada
em minhas linhas, náutica
eutópica, competente de todo o amor que guardo
e todo amor que espero
recomeçar a dar
se algum par de olhos, algum dia
me enfrentar.

serei eu eterna escrava de tudo que temo?

 


serei eu eterna escrava de tudo que temo?
inseputável planície imaginária qual sinto
a dor do leito onde tenho que reviver
o terrível te esquecer cem mais vezes
mas cem mais vezes te esquecer
me dói menos que a realidade dos dias

Que martírio será esse
que teme o dormir,
porém teme muito mais
o acordar?

o eterno desgosto de viver ao
lúcida ou desacordada continuar a te amar
de olhos fechados até te tenho
desde o primeiro doce sexo
até o último amargo beijo
da forma mais cruel
te tenho só em sonho
e em sonho você sou eu
na cópia mais fiel
resgato o corpo teu no meu

mas temo mais em cada sonho
que acordo com a mais vívida lembrança
esperando que o despertar encontre
cem mais vezes o te superar

as águas do Verão

As águas do Verão
verão Verônica partir
E as restantes estações
a falta de Verônica irão sentir!

Verônica imaculada, distâncias
de campos verdejantes, etérea beleza
da quente manhã que é sempre pura
És incomparável! És a natureza!

Ah, Verônica, o outono chora suas folhas
o inverno alaga areias, congela mares
e a pobre primavera se envergonha de suas flores
sem teus olhos, Verônica! 
para as mais vívidas cores lhes dar.

Tua presença, Verônica, é o próprio sol oracular
que tudo ilumina, santifica e aquece
És a esperança de um seio maduro
que rega os amantes com seu liquido
A suma flecha do cupido!
Verônica, és o amor realizado! Crueldade
És a bondade, o supremo do desejado.

Mas partes junto ao Verão, Verônica
entristece todos os beijos e abraços
deixa-os em retrato, condena-os a te ansiar,
Verônica, partes! deixa-os no aguarde
do próximo ano, tua volta divina, Verônica!

resgata meu inútil desejo

 


Resgata meu inútil desejo
De amar-te mais um pouquinho
Mata-me de anseio pois
Amar-te-ia todos os dias!

Força do amor insuperável
Estranho silêncio imensurável
Ânsia de meu abismo passado
Do homem impossível, mas amado!

Matar-me-ia se acordasse
E não pudesse amar-te insaciável
Todos os meus dias, irrecuperável
Resgata, suplico, meu último desejo!

me ensina a amar devagarinho

 


Me ensina a amar devagarinho
Que sou desesperada por você

Me condenei diante minha pior rivalidade íntima;
A perseguição! Amar platonicamente o irreal
Destinada à loucura desde que a realidade tão banal
Faz me querer bem longe desses teus olhos ladinos
Que se enfrentados, laceram, se negados, rogam maldições
Então vivo na fantasia de já sermos um só e nos namorarmos
Todas as manhãs, tardes e noites na rua torta aqui de casa

E a dúvida que é pior que uma triste certeza
Me assombra e me abandona à delírios
Pensando, sonhando, vem, vem, vem
Aparece de repente perguntando meu nome
E se convide a participar de minha vida!

Se sou louca por me apaixonar pelo o desconhecido
Não são ainda mais loucos os que amam o ordinário?

você, matéria prima e até ti, percurso estreito

 Você, matéria prima e até ti, percurso estreito
Repouso meus olhos no negro e resplandecente sonhar
E em tua utópica presenta, habito teu peito
De nosso futuro hipotético, prevejo a sina da distância etérea
Desejo-te ardentemente num vínculo perfeito

Poderias me amar, beijar meus delicados trejeitos
Mas o infinito de cumes e orbes extensas
Leva-me embora, deixando cadente meu peito
Eu vejo, ao fim, colisões gigantescas de brilhar absoluto
Tudo movido pelo supremo amor de meu leito
O Reino Universal torna-me ponto minúsculo
Carne bruta humana, repleta de defeitos...

Sou a brisa inexistente entre galáxias e cometas
À procura de ti, Planeta Perfeito.

um dia entenderei

 


Um dia entenderei,
 porque meus medos se concretizam,
 porque meus pedidos não se realizam,
 porque meus silêncios não são compreendidos,
 porque olho para o céu e vejo o passado do mundo,
mas nunca o meu.

Um dia entenderei porque não vivo sempre mais,
ao invés de estar morrendo devagarinho.

Entenderei porque chorar me custa tanto
quando sinto dores tão violentas.
Porque escrever carrega as dores mais profundas
e as palavras me fogem quando as necessito mais.

Entenderei esse olhar tão vago,
quando tudo que eu grito
está em sintonia do que vejo
Entenderei essa minha fúria
que mesmo enorme, me cala
e me afunda.

Um dia entenderei porque me sinto menos
quando imploro de joelhos para ser mais.
Um dia entenderei porque repito
as mesmas palavras em ordens
e catástrofes fractais.

Um dia entenderei a vida, que mesmo tão bonita
me entristece. Entenderei esse amargo azul
que faminto, cruel e sempre presente
me puxa para dentro de mim
e me emudece.

vivo paixões imaginárias

 

Vivo paixões imaginárias
e nunca chegarei ao dom
da concretização


Também não tenho a doçura do canto de um amor bonito
pois quase não amei e quando amei, amei ferida
temendo um adeus inesperado, amei contraditória
na órbita do medo que pus em minha vida
mas dei ainda de cantar apenas minhas vitórias

se minto é porque temo - porém

 


Se minto é porque temo - porém
não minto, porque te amo.
Te amo e ainda sim temo
pois te amo veemente.

Transborda-me amor,
se te peço pra ficar
me calo, basta-nos o silêncio
Caio, tropeço no novo mas
entrego-me todos dias
desde o primeiro, sempre
um pouco mais.

Meus anseios de ti,
o mais eterno alcanço
nas tuas terras conquistadas
onde moras, dentro de mim.

Amo-te e
de corpo e alma
me entrego e me
integro ao que sinto
que é tão palpável
quase visível.

Amo-te, não posso negar
Amo-te porque te amo
e não há nada mais incrível
para amar.

E eu brinco de desconstrução
começar pela lembrança e
terminar nessa minha dança
boba de palavras simples.

E eu brinco pois te amo
brinco pois contigo tudo é lindo
e o íntegro é tão raro
tão confortável. Eu brinco
mas não minto, é verdade
assumo: eu te amo.

E tentam destruir,
mas não me importa
pois não há como entender
meu imutável amar você.

há em teus versos

 


Há em teus versos
algo te terno
e insensato.

[...]

Há em meu peito
miragens de milhares
de lápides em teu nome
de arcanjo.

será que te verei

 


Será que te verei
será, meu bem
pois desde o último mês
sobre nós, nada sei

Cometerás novamente o sequestro
de meus sentimentos e roubar meus versos?
Cantarás nossa história
me devorarás com mais mistério?

Quem me dera tudo fosse assim
como escrevo todo o tempo
como labirintas em meu pensamento
quem me dera não termos fim

entre as diversas alianças que fiz contigo, me perdi




Entre as diversas alianças que fiz contigo, me perdi
sofri, sofri na ausência
na onipotência
no teu roubo de mim
Respeito as nuvens vagarosas que me segredam
guardiãs da insaciável saudade
de tua carne
aguardam-me dias de metamorfose?
No véu imerso em ondas de lágrimas
permito-me sofrer perante minha impotência
em não amar-te mais 

tornei-me templo esquecido

 

Tornei-me templo esquecido
que sente dor e sofre escondido
abasteço-me do pouco que ainda me habita
do grande amor que em mim definha

Se me amas por que me feres?
vivendo de esperar
que de tanto tentar, desaparece
Paixão cruel que em mim perece

Constante inconstância, eternas dúvidas
Já não sou compreensão
tornei-me aquilo que mais temia
o desprezo de nossas vidas.

quando no particular de minha mente

 


Quando no particular de minha mente
eu me encontrar revestida somente de tua sede
saberei que minha fuga foi imparcial
e que tal como este caos corporal
me terás presa à ti
e farás tua caça.

Roubarás meus versos, roubarás minha calma
tudo roubarás de mim até que eu seja casta
estonteante e deturpados meus sentidos
hei de me sentir restabelecida
hei de me sentir completa
após por ti for devorada
e devolvida ao mundo
como a única que
do teu amor
sobreviveu.

meu sossego é dormir em teu peito

 


Meu sossego é dormir em teu peito,
onde fico a cochilar no Vai e Vem da tua respiração
Suspiras em uníssono tantos sonhos quais percebo
Ao olhar para o teu cenho, que franze toda vida
Você faz barulhos dormindo,
enquanto eu fico a observar que teus lençóis
são nosso lar.
Se tento sair de teus braços, não me deixas
Me apertas para mais perto, enfiando meu rostinho
em teus cabelos.
Teus dedos percorrendo o caminho de minhas costas
Enquanto, em passo lento, o dia se desfaz.

Por instantes posso perceber que ao finalmente adormecer
De dois tornamo-nos um, eternos azuis desmanchados em descanso
após amarmo-nos por inteiro.

sou mais segura em meus pensamentos íntimos

 


Sou mais segura em meus pensamentos íntimos
do que conquistada pelos teus olhos famintos,
ainda que eu saiba de minhas personalidades múltiplas
é em mim meu melhor abrigo do que em tua pálida pele
Sólida tal certeza, permaneço possuída do teu hálito fresco
embebida de teu suor fraquejo, não sei dizer-te não
violentos contra mim os meus castigos
meu próprio lar procura à ti, masmorra, o acalento
Desvairo em delírios, tremo e não posso dormir
o que poderei fazer, se meu próprio corpo
de ti todo tempo foge
e à ti todo tempo procura?

quero-te como um bem amante amigo



Quero-te como um bem amante amigo, como tu, eu, e todos os meus poemas gritam para que o mundo também saiba, mas
Não permites
Com tua muda razão, me agrides
E deixa à esmo e ausente desenho do amor perfeito,
Por serem tuas portas grandes ou pequenas demais afastas
Meu corpo, que na idealização do imaculado, tanto insistes
Me explica, meu bem, teu inquieto peito. Me explica tuas lágrimas?

Nossos olhos boêmios atirados pela lenha da casa, aguardaram o entardecer orados das palavras mais belas possíveis e vimos
Surgir as manhãs que eu tanto canto e tu veneras!
[Me perpassa o sangue mais quente que rasga e grita o tempo inteiro pois tu és sim a culpa de toda a minha incompreensão que vai e volta com um gosto amargo na garganta me lembrando um porre ruim que tomei em teu nome]
E no vão da porta que me encontro, olho para trás como último resgate
Do caos e contradições de teus discursos e olhares
Que de tal forma absurda ainda reconheço como lar
Careces de meu colo quente, minhas palavras doces e todo o mais demorar carinho que precisar
Sei pois exiges que eu vá e não me deixas partir
Tua loucura molda essa paixão doentia
[Quase ininterrupta que rouba noites e noites, cartas e cartas e manhãs e cigarros e manchas e conversas e meus deus, onde estará a paz do amor que dito?!]
Mas olho para trás com esperança do último resgate
Antes que tua loucura me afaste de ti,

Pois não sou a mulher inabalável, meu bem. 

dentro de minha pele macia

 


Dentro de minha pele macia
tua presença varia
meu batimento e
meu termostato:
és meu segredo subcutâneo.

não posso falar de mim

 


Não posso falar de mim.
de minha vazia política
de meus subalternos olhos
sujeitos severamente
ao meu caos cotidiano.

Nada posso dizer
de meus trejeitos indelicados
de minha voz impróspera
e minhas múltiplas faces
de mesmas feições.

Poderei somente calar as infrutíferas
entonações de meu corpo
demasiadamente mínimo e só
coexistir com o que não compreendo
minha covardia frágil
sutilmente revestida
da timidez que me anuncia.

Revelo sempre aos prantos
em meus versos desconhecidos
a minha natureza perversa
de fatalidades humanas.

de tua pele, o meu desejo

 


De tua pele, o meu desejo!
em últimos suspiros até que exaure
e toda a minha ânsia de ti eu mate

Do teu ser, o meu deslumbre!
e todos os meus olhares em ti repouso
sem que jamais parta o meu fascínio

De nós com sede eu me visto
e faminta a saudade se alimenta
e transbordo-me e transbordo-me
pois clamo teu nome em gritos secretos
e não há o que cale meu te querer perpétuo

de serpente, desordeno

 


De serpente, desordeno
Eloquente
transcendente em delírios
aveludada de frieza e perversão
de minha garganta fervente, impaciente
por novas mentes.

Apeteço-me destes semáforos piscantes,
sapateando no caos que minha vida se tornara
os cigarros derretendo em minhas mãos
e ele
me ligou
sete vezes
somente hoje.

Meus saltos há muito difundiram com asfalto
Fazendo música à ouvidos estrangeiros
Vivo acompanhada deste Céu desleal
mas qualquer um que me vê passando,
sabe que venho sozinha.

não sei se um dia eu soube

 


Não sei se um dia eu soube 
Somente sei que hoje sei menos 
Do que um dia eu soube 
Sobre quem sou 

Se em algum momento 
Na penumbra de minha vida 
Eu mantive alguma certeza, não sei
Somente sei que hoje absolutamente 
Nada de mim e dela eu sei 

Suponho meu passado 
O vejo abstratamente 
Como se não o tivesse vivido
Temo meu futuro 
Ando em passos incertos 
Pois até em meu andar 
Não há a confiança que me falta 

Não sei quem fui e 
Quem sou 
Inutilmente assombram-se
As sombras de meu amanhã