sexta-feira, 27 de maio de 2022

na minha mente, ventanias

Na minha mente, ventanias! Que criatura é essa que me tornei?
De faces quais não reconheço! Múltiplas mãos sobressalentes
Mas que nada tocam além senão a perpétua desorientação do ser
Que criatura foi que me tornei? Em noturnas palavras e ficções
Sou essa criatura maligna, descomposta, grotesca e consternada
Nada nela me representa, contudo me reflete preservada
Criatura feroz, rústica, de tudo se alimenta cegamente
Que monstro é esse? Que me comporta e traduz em dessimetrias fractais
Confinada nas minhas vísceras, exibe minha carne em abstrações horrendas
Criatura faminta e sedenta! Quem sou eu e onde me perdi?!
No vergão da carne trêmula, pronuncio as mais proféticas confissões:
Talvez eu nunca me torne aquilo que fui predestinada a ser.

quinta-feira, 26 de maio de 2022

nas volúpias errôneas da existência

Nas volúpias errôneas da existência
abandonei meu espírito nas profundezas
do meu ser
paradoxo das claves fictícias pois
é impossível descobrir fragmentos de reflexo
sem desapossar partes do seu corpo pelo caminho
Falo sobre o esmaecimento plástico
o passar dos anos me roubam depressa e sem reposição
Quando pensei ter me encontrado
me perdi em pequenas porções
Eu morro devagar
ao assistir meu gradual falecimento
em um local privilegiado da plateia
Sou minha espectadora medular
Esse processo não é bonito
mas muito grotesco e infeliz
Não há nada que eu possa fazer
para me salvar do atormento perpétuo
E ao contrário do que a maioria pensa
não temo a insensatez da minha pronúncia e morte anunciada

segunda-feira, 2 de maio de 2022

tenho te procurado em todos os lares

Tenho te procurado em todos os lares 
tateando as próprias formas do vento 
Pairado a todo instante dentro em mim
crio odes baseadas na tua voz 
de síncrono semblante.

Eu te vejo com olhares puros
o que sobra da minha essência 
após consumir todo teu perfume 
são pequenos suplícios de saudades. 

A provocação da tua ausência me faz esmaecer
contemplativa e cegamente guiada
eu renasço em lágrimas e intervalos. 

Conduzo agora minha vida expectando -
nossos delicados toques -
até mesmo provocando certo alarde pelo agudo silêncio 
do nosso desencontro.

Mantenho a calma enquanto zelo minha só companhia
ao mesmo tempo além aguardo o orbitar da nossa união. 

O amor que te entrego é sim o mais profundo
eu resplandeço eufórica nossas vitórias 
e angústias das nossas partidas. 

Sinto que fomos feitos um para o outro 
sigo em caminhos certos até que se encaixem 
nossas mãos novamente.

Perceberei, então, teus olhos repousados em mim 
e teu corpo gélido encostando meu corpo quente
inundando os lençóis que nos protegem.

Busco, por nós, concretizar tais verdades. 
Ser tua e mais um pouco, 
apenas entregue e dissolvida em mármore, perpétua. 

Solene, velando a primazia dessa espera 
que agora me mantém enraizada.