Meus sentimentos mais clandestinos me contaminaram com uma tristeza visceral que durou por estações a fio.
Senti minha depressão incubada dentro de mim, crescendo entre meus órgãos e ranhuras.
Fazia parte de mim
como um uma embrião malformado,
torto
e faminto.
À noite me visitava com frequência, no escuro do meu quarto partia do meu ventre viscoso, passeava se divertindo nas sombras noturnas e eu observava acostumada.
Essa coisa que crescia dentro de mim
tinha meu rosto,
mas não era eu.
Eu jamais fui essa coisa
que germinava em mim devagar
e que perturbava minha vida.
Essa tristeza silenciosa
também era feroz,
bárbara
e destruidora.
Arruinou conexões sinceras, despovoou meus pensamentos tranquilos e me esgotou por completo.
De dentro pra fora
eu a alimentei
e me enfraqueci.
Sinto que sobrevivi ao inferno
ao matar minha relação mais duradoura,
tóxica
e tirana.
Precisei matar algo que fazia parte de mim, dentro da minha carne, pulsando em minhas veias.
Minha própria imagem gêmea,
cravada em mim
como verme parasita.
E essa coisa mutante que adotava tantas formas ainda mora dentro de mim, mas não mais a sinto viva se nutrindo da minha vitalidade.
Sinto que sobrevivi
ao matar parte de mim.